- shall we never sink alone -

não estamos no facebook. nem no linkedin. nem no hi5. nem no twitter. nem no messenger. nem no livelink. estamos aqui e ali ao lado, naquela banquinha a que um dia chamaram vida. mas temos e.mail: theheartcompanion@hotmail.com somos moderadamente modernos.

domingo, 20 de dezembro de 2009

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- antónio? antónio!
- hã.. é pá.. olá! tudo bem?
- viva, antónio! há quanto tempo..
- eh pá, há uns anos!
- dois ou três!
- isso! como estás tu? tudo bem?
- cá vamos. melhor, já tenho idade para ter juízo. e tu, pá, estás porreiro? há uns anos..!
- cá vou, também. com altos e baixos. como tu, como todos, não é?
- pois é. a vida..
- então, conta-me, estás ok?
- drogas? limpo. análises ok, graças a Deus.
- isso é uma grande base para recomeçares a vida, antónio.
- eu sei, pois é. nada de seringas, nunca, pá. admito o resto, mas disso safei-me. vou agora uma semana, ser internado, no centro das taipas. os doutores são porreiros, sabes, acompanham um gajo.
- boa! força nisso! é preciso coragem e força. sabes isso.
- sim, até me falaram num ano internado, noutro sítio, mas é muito tempo. eu perguntei e eles disseram que, por agora, é uma semanita e depois logo se vê.. um ano, estás a ver, uma prisão..
- pois, mas às vezes tem que ser. e a metadona?
- nada disso. não quero, não gosto. prefiro assim, internado, prefiro outras coisas.
- é preciso é andar em frente, seguir, ter força.
- pois é. tenho as análises porreiras, sobrevivi.
- isso é óptimo. excelente. deves usar isso..
- eu sei, eu sei.. porreiro ver-te! foi já há uns anos, não foi? eh pá..
- foi, foi, pois é, mesmo porreiro. antónio, força nisso e feliz natal. faz por isso, ok? 
- ok, obrigado, para ti também. bom natal. gostei mesmo de te encontrar!
- e eu a ti. obrigado, um abraço.
- um abraço.


alguns de nós procuram desesperadamente o sucesso, o dinheiro, o prestígio, essas coisas mundanas elevadas à categoria de pontos cardeais. o antónio procura apenas refazer a vida, depois de anos e anos de drogas e mau viver. não sei se vai conseguir, para ser franco convosco. mas o antónio gostou de me ver e eu gostei de o ver e ambos fomos absoluta e espontâneamente sinceros. fomos iguais. ele e as drogas pesadas. eu e a droga dos meus amores e desamores. os amigos não se conhecem, reconhecem-se, disse um dia um poeta brasileiro que sabia das coisas.


(em verdade vos digo, o que fizeres ao mais pequenino dos meus irmãos, é a mim que o fazeis.)

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