- shall we never sink alone -

não estamos no facebook. nem no linkedin. nem no hi5. nem no twitter. nem no messenger. nem no livelink. estamos aqui e ali ao lado, naquela banquinha a que um dia chamaram vida. mas temos e.mail: theheartcompanion@hotmail.com somos moderadamente modernos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

_______________________________________________________________





persépolis, filme de animação realizado pela própria autora (marjane satrapi, em co-realização) da banda desenhada que está na sua génese é um filmezinho maravilhoso.

vi-o, comovido, permanentemente à beira das lágrimas, mas sempre sendo conduzido, com graciosidade, ternura e uma pontinha de humor, para longe do que seria um melodrama um bocadinho xaroposo.. ou seja, até nisso, é um filmão, ao nunca se deixar descair para uma visão maniqueísta, nem no conteúdo, nem no tom.

uma ode à ternura, à liberdade, à memória, é também uma magistral lição de história (do irão), mostrando que raramente os simplismos são um caminho aconselhável.

do tio anoush, elegante e idealista, à avó, sábia, doce e interiormente de ferro, desfila perante os nossos olhos um conjunto de personagens - de pessoas reais, melhor dizendo - que, de uma forma ou de outra, todos reconhecemos, da nossa própria experiência de vida. e isto vale muito, pelo efeito de proximidade e encanto que cria.

há dezenas de momentos que nos tocam fundo, ao longo do tempo que dura o filme. assim, de repente, lembro-me de três ou quatro:

a) "mantém-te sempre digna e íntegra perante ti própria. nunca te esqueças de quem és e de onde vens" (recorrente conselho da avó)

b) "quando te fizerem mal, pensa sempre que é a estupidez que está na base desses comportamentos. isso ajudar-te-á a não reagires de imediato e a afastares de ti o ressentimento e o ódio", que nada nos dão e que muito nos tiram (mais um sábio conselho de quem muito sabe da vida, diríamos)

c) sózinha, gelada, quase sucumbindo ao frio nocturno de viena de áustria, acorda numa cama de hospital e diz para consigo: "passaste por uma revolução e por uma guerra e foi uma banal história de amor que quase te matou.."

o filme está feito de coisas assim, simples, cheias de vida. há uma melancolia imensa, ao longo de todo o filme, mas é uma melancolia vitalista, passe o paradoxo. própria de alguém que sabe que o mundo é o que fazemos com o que nos acontece e que, apesar de toda a dor que nos cerca e quase esmaga (e voltamos à figura da avó da protagonista):

"toda a gente tem uma escolha. há sempre uma escolha."

que pode ser simplesmente: escolher viver.

--

(filmes assim salvam-nos de nós próprios - i rest my case.)

Seguidores

Arquivo do blogue