querida júlia,
todos nós temos 'os nossos quês', como bem sabemos os dois. nos últimos meses, abandonei a minha actividade de 'blogger' regular e, de certo modo, intenso (palavra que anda sempre próxima de mim, não é verdade? pois é.). desliguei-me também da rádio - aquele último programa deixou-me completamente exaurido, não deve ser difícil de imaginar (nota mental: arranjar tempo e bons modos para dizer aos amigos da rádio zero e da RUC que não, não vou continuar; que a 'estação' está morta e enterrada..). também abandonei a poesia (a escrita e o consumo, digamos assim), a música, os livros de ficção. digamos que nada de novo se passa, apenas e só aquele período de soledad que, no meu caso particular, surge sempre como necessidade imperiosa, em tempos de devastação pessoal. as palavras são fortes e nada metafóricas. cada um vive as coisas como ela se apresentam para si próprio, não é verdade? digamos que é possível fazer algum damage control, claro que sim, mas pouco mais. a essência das coisas não é passível de intervenção. não há comprimidos, cirurgias reconstrutivas, terapias zen, palavras amigas, poemas sofridos, teses de filosofia que nos valham. quero dizer, a bem da justiça e da verdade: tudo isto nos ajuda. tira algumas dores, torna a dor suportável, como aqueles sprays que, nos campos de futebol, parecem operar o milagre da recuperação instantânea. mas, tu sabes e eu sei, as coisas não são assim. não são mesmo.
ora acontece, senhorita júlia, que, não obstante este distanciamento de coisas cujo potencial bélicos é incomensurável (a beleza e o sentimento podem ser armas letais, it should go without saying..), tenho-me entretido a ler alguns blogues. gosto particularmente de dois tipos (quero dizer: não é gostar de gostar; é gostar de entreter..): aqueles blogues de rapaziada com coisas altamente intelectuais para dizer ao mundo (esculpidos a bisturi e neurónios, apetece dizer) e aqueles muito particulares blogues em que as meninas e os meninos falam das suas experiências amorosas, numa lógica quase sociológica. é assim, por exemplo, que tenho lido textinhos notáveis de uma quase célebre e quase jovem escritora portuguesa radicada no rio de janeiro, a mónica marques (blogue sushi leblon 2), (pese a desconfiança de que o virtuosismo estilístico pode eventualmente desajudar a manter o flow do insight que quer encontrar e partilhar connosco, seus leitores); ou que me tenho deliciado com as discussões do blogue 'o interno feminino' (muito úteis para captar 'o ar do tempo'); ou ainda que tenho descoberto as sempre úteis reflexões assinadas pela pena da especiosa e bestseller margarida rebelo pinto (sim, eu sei, ao que um homem chega), sempre em busca desse graal que é entender as mulheres e tentar descobrir os factores que podem ajudar a explicar o meu próprio track record (you don't wanna now, not pretty, como sabes, querida júlia) e tropeçar na poção mágica que possa mudar o estado das coisas. reparo agora, querida júlia, que pese a nossa relação fiel e verdadeira, como no título do filme, és mulher.. é caso para dizer: também tu, júlia?! brinco, claro. o que te queria mesmo dizer? sei lá, como no título da outra. que já não há amores como dantes? ou que ainda se morre de amor? sei lá. o que sei é que talvez elas (blogue 3 de 30) queiram isto (e passo a citar):
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Negócio do futuro
Aluga-se (à hora ou ao dia) homem heterossexual:
. Bonito, tesudo, charmoso, cheiroso, bem constituído.
. Com sentido de humor.
. Adora escrever mensagens.
. Detesta falar ao telefone.
. Gosta de aconchego.
. Come bem.
. Bebe melhor.
. Não adormece em frente ao sofá.
. Não é complicado.
. Não é deprimido.
. Não tem problemas para resolver.
... é só encontrá-lo e vamos ficar ricas.
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se assim é, estou frito. repito-me, numa espécie de mantra defeituoso:
estou frito. olha a grande novidade. estou frito. olha a grande novidade. estou frito. olga a grande novidade. estou frito.
- shall we never sink alone -
não estamos no facebook. nem no linkedin. nem no hi5. nem no twitter. nem no messenger. nem no livelink. estamos aqui e ali ao lado, naquela banquinha a que um dia chamaram vida. mas temos e.mail: theheartcompanion@hotmail.com somos moderadamente modernos.