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dizia uma miúda que em tempos e por breves tempos foi 'a minha miúda': 'ainda tenho os teus CDs, lá em casa. cada vez que passo por eles, parte-se-me o coração.. como tos posso devolver?' quero lá saber dos CDs. apesar de bem bons (normalmente, não acumulo tralha sonora; normalmente, não ofereço / empresto / levo para casa de ninguém nada que não passe no meu próprio crivo), eles são o que são: despojos. é difícil olhar para os despojos, bem sei. mas, palpita-me, mais difícil será olhar para aqueles olhos, outra vez. está decidido, desculpa-me. não haverá café, nem almoço, nem CDs de volta a casa. afinal, eles estão na sua nova casa, testemunhas para a eternidade do que é a era da velocidade, celebrando o triunfo do efémero. são estátuas vivas e assim devem permanecer, para memória futura. acabarão num caixote, ou na feira da ladra, às mãos dos filhos adolescentes que um dia terás. quando já não existirem CDs. quando eu já não for mais do que aquilo que sempre fui: uma nota de rodapé, carcomida pelas negras térmitas do tempo. ao museu, o que é do museu. à vida, o que é da vida.

(dois anos depois, ainda dóis. raios te partam, rapariga.)