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esta noite sonhei contigo. ontem também. e anteontem. esta noite (e ontem (e anteontem)), estavas tal e qual como quando eu te conheci: o mais belo rosto humano que me foi dado ver. um exercício cruel de beleza extrema: olhos de avelã das índias; curvas esculpidas como se por um mestre dos mestres da renascença; uma pele que projecta luz; sardas estivais. tudo é harmonia, um milagre da biologia, uma coisa formidável. esta noite sonhei contigo e tu estavas transcendentalmente bonita. tal e qual como naquele dia em que foste comigo a um sítio e o rapaz, que me conhece há anos, olhou-te e segredou-me: 'quem é a miúda? é a tua miúda? brutal. ela é brutal.'. acho que, por pudor, nunca te contei esta história, pelo menos com esta exactidão factual. mas, dizia, esta noite sonhei contigo. e o diabo me leve se não trocava a liga dos campeões que um dia o meu clube vai ganhar, mais todos os títulos; e o diabo me leve se não trocava a vitória do meu partido mais logo, mais todas as vitórias; e o diabo me leve se não trocava todos os meus sonhos.. por uma noite contigo, outra vez.