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conheci uma miúda que apregoava as virtudes do verbo desintensificar. volta e meia, já sabia, lá vinha o repto bem dirigido à minha pessoa, normalmente acompanhado de um ponto de exclamação suave e daquele olhar que nos desarranja o juízo e mais umas coisinhas cá dentro.

eu nunca percebi bem como é que isso se fazia, apesar de dizer que sim. concordava com isso, como concordava com tudo o resto. para usar uma figura de estilo popular, era como se ela dissesse (perdão, me dissesse): 'viva o sporting' - e eu: 'viva!', para logo a seguir, gritar: 'viva o benfica!' - e eu: 'viva!'. estou certo de que sabem como é..

mas, dizia-vos, eu não sabia bem como aplicar o verbo, como torná-lo operativo. assim, um belo dia, virei-me para ela e perguntei, ganhando coragem e embalo:  'como é isso de desintensificar uma vida?'. mas ninguém respondeu. prova magistral do seu domínio sobre essa fina arte, eu havia sido por ela desintensificado. com louvor e distinção.

a moral da história é amoral - é essa a única moral.