- shall we never sink alone -

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domingo, 16 de maio de 2010

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[repara: este imenso adeus, como nos livros de chandler, tem em si uma coisa bonita e generosa: aqui e ali, ali e aqui, deixo-te um conjunto de palavras incendiárias, e incendiadas: uma herança afectiva, preciosa, para que, também tu que me lês, possas retirar do deserto alheio o seu sumo mais sagrado: repara neste imenso adeus, com olhos humildes: só assim poderás aprender com a dor e a glória alheia, mais do que fruir da palavra pela palavra - o que seria porventura prazeiroso, mas estéril: glória e eternidade ao amor, pelos séculos dos séculos? então: tens que aprender, como eu tive que aprender, the harder it takes, the better it gets, my dear reader: código de aprendizagem do amor do século XXI, mas não o amor em si: esse, é como a chuva que aquece, o frio que queima, a palavra que se sente: repara, um milagre, repara: outra coisa não é o amor. vai-te a ele. vai-te agora.]


Código de Amor do século XII


I

A alegação do casamento não é desculpa legítima contra o amor.

II

Quem não sabe esconder não sabe amar.

III

Ninguém se pode dar a dois amores.

IV

O amor pode sempre crescer ou diminuir.

V

O que o amante arranca pela força ao outro amante não tem sabor.

VI

O homem não ama, normalmente, senão em plena puberdade.

VII

Prescreve-se a um dos amantes, por morte do outro, um luto de dois anos.

VIII

Ninguém, em amor, deve ser privado do seu direito sem uma razão mais que suficiente.

IX

Ninguém pode amar se não estiver imbuído da persuasão de amor (da esperança de ser amado).

X

O amor, habitualmente, é expulso de casa pela avareza.

XI

Não é conveniente amar aquela a quem se teria vergonha de desejar em casamento.

XII

O amor verdadeiro não tem desejo de carícias, a não ser que venham daquela a quem ama.

XIII

Amor divulgado raramente dura.

XIV

O êxito demasiado fácil não tarda a tirar o seu encanto ao amor; os obstáculos aumentam-lhe o preço.

XV

Toda a pessoa que ama empalidece ao ver quem ama.

XVI

Ao ver-se imprevistamente aquele a quem se ama, estremece-se.

XVII

Novo amor expulsa o antigo.

XVIII

Só o mérito torna digno de amor.

XIX

O amor que se extingue decai rapidamente e raramente se reanima.

XX

O apaixonado está sempre receoso.

XXI

A afeição de amor cresce sempre com os ciúmes verdadeiros.

XXII

A afeição de amor cresce com a suspeita e com os ciúmes que derivam dela.

XXIII

Menor dorme e menos come aquele a quem atormenta um pensar de amor.

XXIV

Todas as acções do amante terminam pensando no que ama.

XXV

O amor verdadeiro não acha bem senão o que sabe que agrada a quem ama.

XXVI

O amor não pode recusar nada ao amor.

XXVII

O amante não pode saciar-se de fruir do que ama.

XXVIII

Uma fraca presunção faz com que o amante suspeite coisas sinistras em quem ama.

XXIX

O excessivo hábito dos prazeres impede o nascimento do amor.

XXX

Uma pessoa que ama está ocupada assídua e ininterruptamente pela imagem de quem ama.

XXXI

Nada impede que uma mulher seja amada por dois homens, e um homem por duas mulheres.


André, capelão francês do séc. XII, citado por Stendhal ("Do Amor")

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