- shall we never sink alone -

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

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e há o rosto, sorridente e cinematográfico, daquela miúda, atrás do balcão, dizendo-te 'sou do nepal', quando lhe perguntas se por acaso não vem das filipinas. do nepal e de katmandu, sua mítica capital, que conheces de outros tempos. doze anos atrás, andavas por lá. repetes nomes de cidades que visitaste e o rosto, agora aceso e brilhante, interessa-se por aquele português que, improvavelmente, conhece a sua casa, esse vale em torno da capital, esse rio sagrado, ao longo do qual o cheiro das piras funerárias faz das suas, o templo dos macacos, os socalcos com arrozais, as estradas que serpenteiam, as cidades medievais como que teletransportadas para este tempo. o rosto, menos tímido agora, sorri-te e pergunta-te o nome, que, segundos depois, tentará soletrar, o melhor que consegue. pensas, numa fracção de segundo, no woody allen, no john lennon, nesses orientais amores que lhes saíram ao caminho. não que penses nisso, que não pensas - apenas em abstracto, digamos assim. mas, quem diria, encontrar alguém vindo de  tão longe, no espaço e no tempo. doze anos passaram. doze anos e tanta coisa vivida. se john cassavetes tivesse sido português e nosso contemporâneo, talvez a tua vida fosse agora uma espécie de argumento. a tua vida e o teu rosto, nessa eterna e recorrente noite de estreia, habitada pelas sempiternas sombras que são, talvez, o que de mais humano trazes aos ombros. um café, uma miúda nepalesa, uma gabardine imaginária cossada, a tarde que cai, a vida aos repelões. nossa senhora do micro-espanto, avé.

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