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um dos mais célebres quadros de caravaggio representa david com a cabeça de golias. um pormenor que merece ser notado é que o rosto de golias, nesta pintura, corresponde aos traços fisionómicos do próprio artista. temos, assim, uma espécie de auto-retrato sombrio. biógrafos vários apontam como eventualmente possível um desejo de caravaggio exorcizar, através deste 'device', certos traços mais questionáveis do seu próprio carácter. uma outra possível interpretação, ainda que algo simplista e linear, é a de que o autor estaria em vida a assinalar o inescapável devir para a morte - existencialismo e metafísica, há quase quinhentos anos.

com jeitinho, o quadro e as palavras acima são uma boa forma, velada q.b., de falarmos deste blog. nada é o que parece e tudo é exactamente o que parece. eis boa parte da angústia psi contemporânea, sintetizada numa fórmula desencantada e certeira.

ou de como todos enganam todos, o tempo todo, e de como todos sabem isso, mas optam(?) por ignorar isso. shakespeare tinha razão.

a outra possível ilação é a de que estamos todos mortos. e, mais uma vez, todos sabemos isso, mas optamos(?) por ignorá-lo. receio que caravaggio também tivesse razão.

foi assim 2009. paciência.