talvez seja, afinal, bem simples. tal como no filme de martin scorsese que ontem me embalou os pesadelos, talvez, afinal, tudo isto seja apenas uma espécie de 'lisbon after hours', um desatino cósmico, sem razão ontológica, uma sucessão improvável de acasos sem sentido, um puzzle aleatório e estranhamente sequencial. algures, entre as 23h00 e as 7h00 da manhã, nesta cidade por alguns conhecida como lisboa, eu perdi-me, num registo frenético e dormente, enquanto procurava alguma coisa simples: ir ao encontro de uma rapariga bonita (e aqui deve ler-se como metáfora e, ao mesmo tempo, expressão literal, de toda uma demanda existencial). frenesim solipsista, com o seu quê de arcaico e, ao mesmo tempo, absolutamente moderno. exercício em souplesse que ousa enfrentar o grande domínio das coisas que são o que são. esta lisboa fora de horas é a materialização de certos pesadelos, um não lugar, um poço sem fundo, vertigem e miragem, deserto com vista para um campo de trigo e acácias, gatos a uivar, rosas mortas.
e eu que só queria, que só quero, chegar a casa..