minha querida,
desejo-te uma vida feliz. no momento em que te escrevo, estou já no countdown para outra vida, da qual, creio bem, grande parte de vós não fará parte. sem injustiça, rancor ou ressentimento - apenas uma normal decorrência do facto de uma boa parte de mim também me não acompanhar, rumo a esse futuro.
desliguei ontem o motor. era apenas um motorzinho, mas, que queres, já me estava a habituar ao seu suave ronronar. mesmo os pontuais picos eram geridos com aquela bonomia que devotamos às esquinas e imperfeições do que sentimos como nosso (uma casa, um carro, um emprego, um amigo, um livro, um casaco especial, um quarto de hotel, uma cidade, um autor, um poema, uma flor - coisas apenas quase perfeitas, mas mais do que perfeitamente nossas).
ficarão os mails no inbox. ficará a árvore por germinar, contida nas sementes que nunca verão terra. uma ode à possibilidade, cápsula virtuosa que encerra entre paredes opacas a possibilidade de luz. um contra-senso - como tantas vidas, como tantas coisas numa vida, afinal, o são.
eu estou já a caminho. e, mais uma vez, olhando pelo retrovisor, it is not a pretty landscape.. mas, diz-me, minha querida: sabes que tens o poder, não sabes? então, também deves saber que tens a responsabilidade. mas já não interessa.
fiz a minha parte. semeei.
sigo para outros campos, em busca daquela palavra mágica que se chama reciprocidade. e toda a reciprocididade se funda e fundamenta numa coisa chata, chata, chata.. a vontade. e, sabes, quando há auto-determinação, liberdade, é uma coisa terrível (e linda) essa coisa tremenda que é assumir a vontade. dar-lhe rédea curta, fazer dela instrumento nosso e não o contrário.
voltamos aos campos de algodão, de onde nunca deveríamos ter saído.
nada disso.
de onde saíremos, uma e outra e outra e ainda outra vez, até o tempo se ter esgotado, até tudo se ter esgotado, até o nosso coração-motorizado sucumbir.
até lá, minha querida.
- shall we never sink alone -
não estamos no facebook. nem no linkedin. nem no hi5. nem no twitter. nem no messenger. nem no livelink. estamos aqui e ali ao lado, naquela banquinha a que um dia chamaram vida. mas temos e.mail: theheartcompanion@hotmail.com somos moderadamente modernos.