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em 1997, neil hannon, master mind dos the divine comedy, fechou-se num estúdio de paris, com alguns dos seus colaboradores de sempre e com uma orquestra quase, quase completa.

como tantas e tantas vezes, é difícil perceber o que é acto criativo puro - ficção da mente humana - e o que decorre directamente da biografia emocional do autor. acredito, por experiência própria, que a maior parte das vezes a resposta está numa terra de ninguém, intersecção de geometria variável entre esses dois planos.

nesses dias de paris, acossado por um sentimento amoroso, real e incontrolável (e, confessamos, não sabemos se correspondido ou não, nem sequer se já em plena fase de ressaca ou se, pelo contrário, de compreensão incontornável do seu estado apaixonado), neil hannon gravou um dos discos seminais da música pop de toda a década de noventa.

'a short album about love', assim se chama o disco, são 32 minutos, repartidos por 7 canções. é também um disco para o qual os adjectivos se esgotam por os percebermos aquém do que queremos dizer: sublime, encantatório, soberbo, espantoso. um longo etc, para não vos fastidiar demasiado.

bebendo na riquíssima herança dos crooners românticos, mas sem anacronismos; indo buscar o melhor da tradição orquestral quando sábiamente aplicada ao mundo da canção pop; nunca abdicando de um bom gosto magistral.. neil hannon ergue um monumento em forma de disco, fixando para sempre esses mixed feelings, ora exaltantes ora dissolventes, essa gravitas, tão próprios do amor.

'a short album about love', ilustrado aqui, de certa maneira, por imagens do filme 'persona', de ingmar bergman. porque 'persona' é sobre máscaras e sobre identidade. e o amor parte exactamente disso mesmo, para chegar bem mais longe. ou bem mais perto.