- shall we never sink alone -

não estamos no facebook. nem no linkedin. nem no hi5. nem no twitter. nem no messenger. nem no livelink. estamos aqui e ali ao lado, naquela banquinha a que um dia chamaram vida. mas temos e.mail: theheartcompanion@hotmail.com somos moderadamente modernos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

________________________________________________________________

querida júlia,

se a política é a arte do possível, então a arte é a política possível. como, aliás, a vida é também uma nada subtil ciência (ou arte?) desse mesmo possível. contra os idealismos, contra as utopias, marchar, marchar? não necessariamente. manter, contudo, a perspectiva, é altamente recomendável.

há momentos na vida em que precisamos mesmo de uma pontinha de sorte. e de afecto, se me permites. é curioso como parece que quanto mais te escapa uma, mais as coisas do mundo te parecem afastar do outro. não que tu te afastes - é mais, como dizer, o contexto que roda, como naquelas peças de teatro em que as personagens permanecem mudas e quedas, enquanto, à sua volta, mecanismo de precisão, o cenário muda, num abrir e fechar de olhos. quem mudou, de facto?

já sabes que sou cultor deste estilo ziguezagueante. que raramento desfiro golpes certeiros, limpos - pelo menos com as palavras. gosto de ir por camadas, poderia dizer-se de forma mais imediatista.. gosto? ou é a maneira possível? mais uma vez, eis a palavra, em todo o seu esplendor, saíndo-nos ao caminho, saltando detrás de um arbusto metafórico. uma emboscada, pois claro.

bem, querida júlia, tentemos manter as pontas atadas, esforcemo-nos por manter um discurso lógico, coerente, quase eloquente. a pergunta é: onde páram os amigos? deixa cá ver..

1. pois, a falta de sorte, está correlacionada, matematicamente, com a falta de 'appeal' - este nosso novo estatuto? parece que sim.

2. agora que falta a iniciativa, onde está a reciprocidade? ah, pois, exacto, crianças mal habituadas demoram tempo a endireitar-se. culpa dos paizinhos, claro está. mea culpa, neste caso - já percebi tudo..

3. poderia continuar por aqui fora, com facilidade e amarga exuberância. não vou por aí.

querida júlia, o que te quero dizer é o seguinte: as coisas são o que são. e batem-nos à porta, sem pedir licença. temos que saber, como me ensinaste, afastar a tentação do ressentimento. evitar reflectir demasiado sobre o que se está a passar. pensar que pode ser da perspectiva e desta máquina de ampliar sensações, sentimentos, emoções que me incrustaram no coração, ainda em pequenino. afinal, as hipóteses podem ser várias. e uma ou outra até podem fornecer o contexto devido e apaziguador.. oxalá que sim.

veremos como vamos sair disto. ora aqui está um belo motivo para seguir viagem e esperar atentamente pelos próximos capítulos. eu já tenho bilhete na primeiríssima fila (não digas a ninguém, mas é mesmo mesmo mesmo no centro do palco, como aquelas modernas encenações de wagner, no teatro são carlos..). e tu, já compraste? olha que é coisa para valer a pena. suspense, non-sense, teatro de absurdo, algum realismo à la século vinte e esta indefinição própria deste novo século.

querida júlia, quando estiver em palco e varrer a plateia com o olhar amedrontado, fixarei em ti os meus olhos e lembrar-me-ei que, chovam facas afiadas ou lobos esfaimados, ainda terei uma palavra a dizer. cuidado com um personagem à solta. às vezes, faz milagres de um texto desconchavado. às vezes, opera o impossível, suspendendo essa coisa que é o.. o cinzento, o possível, o cinzento-possível.

és a maior, querida júlia.

Seguidores

Arquivo do blogue