'vão cães acesos pela noite', como diz um dos nossos jovens e desconhecidos - redundância, bem sei - poetas.
tento arrumar um dos mails pessoais. faço um sort por sender. e, de repente, alinhados, ali estão, dezenas, centenas, metafóricos milhares de mails dela(s).
jazem mortos, petrificados para sempre, uma ala novinha em folha, num gigantesco cemitério de sms e de mails pessoais do qual não posso desviar o olhar.
tantas possibilidades, tantos sonhos, tantas promessas de vida, tantas lágrimas partilhadas. e tudo acaba num cemitério imenso, repleto de pequenas cruzes brancas, como os cemitérios militares americanos. um rio, outrora imenso, seco e desértico. um vulcão há muito extinto, sepultando-nos e todos os vestígios do que fomos, como aqueles amantes abraçados em pompeia que me fazem sempre chorar por dentro.
'eu detesto este tempo detergente', dizia o senhor ruy belo, esse metafísico desencantado. eu detesto este tempo electrónico. em que estamos 'quase em linha', vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, com quem amamos, para logo, numa súbita inflexão do destino(?) desaparecermos num buraco negro digital.
ou então a imagem de um exército de pequenos soldadinhos de chumbo, num museu que já ninguém visita, com o pequeno pormenor de todos eles serem representações fiéis de homens reais - que nasceram, que viveram o melhor que puderam e souberam, que amaram e foram amados.
querida júlia, desculpa a náusea.
- shall we never sink alone -
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