querida júlia,
eu e os cabeleireiros. os cabeleireiros e eu.
ontem, lá fui, a contra-gosto e a conta-gotas, aparar a circunstancial juba. a cabeleireira (empresária, chefe, formadora e cabeleireira-mesmo-cabeleireira - tudo ao mesmo tempo) é amiga de pessoas da minha família. o contacto foi lentamente estabelecido, mas lá se arrancou para mais uma converseta. noventa minutos de assuntos improváveis. às vezes, não sei se sou eu que vou ao psicólogo, quando corto o cabelo, ou se sou eu o psicólogo de quem me corta o cabelo.. talvez as duas, e não se fala mais disso. notas soltas, querida júlia, em estilo 'soundbyting': 'devias era trabalhar em algo criativo' (pois). 'tens que idade? deixa-te disso, pá, és um jovem, nos tempos que correm' (pois). 'tipos sem carácter é o que há mais - despacho-os logo!' (pois, e encolhi-me na cadeira..). 'uma mulher não quer gajos que a controlem. digo sempre às minhas amigas: gostas dele? dá-lhe para trás!' (no comments).. definitivamente, querida júlia, os tempos não correm de feição. não fui feito para este tempo, como o tempo tem, aliás, magistralmente demonstrado. mas isso era conversa para todo o dia e não pode ser. tens que trabalhar, eu sei. tenho que trabalhar. em algo não criativo, envelhecendo neste estaminé, questionando o meu próprio carácter e seguríssimo que não tenho hipóteses - não neste mundo, não nesta curva do tempo, não com estas raparigas. olha a grande novidade..
(e nem sequer me sinto bem de cabelo cortado.)
- shall we never sink alone -
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