o pedro, que é um rapaz inteligente até dizer chega, escreveu hoje ou ontem, no seu novo blogue, a propósito da verdade e da mentira. no contexto político actual (estava mesmo a pedir, não é verdade? ou será mentira?), mas também do papel de ambas - verdade e mentira - no contexto das suas relações amorosas. o pedro escreve sempre de forma casta e respeitosa, sobre coisas íntimas mas nunca sobre coisas privadas. esta curiosa inversão semântica não o é verdadeiramente. aprendi com ele e com os (melhores) blogues que podemos escrever sobre coisas profundamente íntimas, sem que isso possa, de algum modo, corresponder a uma espécie de "web based pink press 2.0", para brincar com a expressão internet 2.0 e com a mui inglesa designação para a nossa "imprensa cor-de-rosa". quer isto dizer, que abordar questões íntimas, no sentido que o pedro lhes dá, é como explicar os mecanismos emocionais que nos regem, sem nunca explicitar a tradicional equação noticiosa (quem, quando, onde, como). já as perguntas o quê e porquê interessam sobremaneira, quando falamos de intimidade mas recusamos liminarmente abrir os portões da privacidade.
ora o pedro, rapaz profundamente inteligente (já vos disse), aborda num dos seus mais recentes posts, as mulheres que amou e que lhe mentiram (do ponto de vista, lá está, do como, mas sem um único dado digamos objectivo ou biográfico). e a mulher que amou e que nunca lhe mentiu (pensa ele, mas nós, para manter o raciocício, acreditamos desta vez). termina dizendo que prefere 'a violência da verdade' (sic).
eu também, caro pedro. eu também. o problema, mesmo com quem diz a verdade, é que há uma outra dimensão e essa, infelizmente é de muito difícil domínio - chama-se timimg. por outras palavras, só se pode dizer a verdade num determinado e bem preciso momento. a partir daí, aquilo que passa por verdade é, de verdade, um exercício de demolição moral de quem está à nossa frente.
o que nos leva à questão do timing e ao exercício absolutamente solipsista que é perceber em nós o que nos irá conduzir, um segundo à frente, à possibilidade da mentira. assumir, nesse preciso momento, o que está a (e para) acontecer e, num exercício de coragem moral quase sobrenatural (mas possível, lamento informar aqueles de vós que já respiravam fundo), tomar as rédeas (impedindo o que pode vir aí..) ou dar o peito às balas e contar a verdade. mas, antes de contar, à outra, ao outro, às outras, aos outros, há que contar a verdade a nós próprios. e aí, amigos meus, já vi muitos generais vacilarem sem remissão. e muitos seres moralmente quase inexpugnáveis optarem antes por um cigarrinho e uma longa caminhada a pé ('pode ser que passe'...).
as coisas são o que são, pedro. as coisas são difíceis. mas estou contigo: prefiro a violência da verdade. de mim para mim. de mim para os outros. e dos outros para mim. dói? imenso. muda a vida para pior? bastas vezes. mas é a saída mais digna. e isso, no longo prazo, permite-nos manter o olhar límpido e o coração doce. e isso, caro pedro, daqui a uns anos, se Deus nos der vida e saúde, palpita-me que fará a sua diferença.
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