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querida júlia,

isto de passar meias tardes de domingo às voltas com bukowski tem que acabar. tens tu toda a razão quando me repreendes, usando a expressão 'mais solar' em todas as suas possíveis, mesmo improváveis, combinações. mas, que queres tu?, há epígonos, 'shadows', 'almost beings', 'ghosts of a good thing', alter-egos, projecções avulsas, coisas assim, à solta dentro de mim. sabes bem que o tio charlie é apenas mais uma. o medo, querida júlia, é dúplice (será a palavra certa? - pergunto-me): a vertigem do abismo doce, da miséria galante; a beleza de uma certa ética que encontramos numa decadência 'against faith'. e, claro, o medo sufocante de os anos passarem e chegarmos aí, a esse momento onde o tio charlie começou a perceber que 'a hora havia já passado'. o medo de ser tarde demais, querida júlia, adivinhaste. conheces-me bem, sim, sabes que sim.


post scriptum:

(..)
mas não era eu
porque o ontem já foi
e o hoje é apenas ketchup
e galgos de corrida
e doença
e mulheres algumas mulheres
momentaneamente tão bonitas
como qualquer catedral
(..)

tio charlie